Mato Grosso do Sul, um estado com agronegócio em franca expansão e um crescimento econômico que tem chamado a atenção do país, está no centro de um debate crucial: o futuro de sua matriz energética. A recente notícia sobre o sucesso do Leilão A-5/2025, que impulsionou a contratação de novas Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) no Brasil, reacendeu a discussão sobre o papel dessas usinas em um estado de forte potencial hídrico. No entanto, a investigação do Ministério Público de MS (MP-MS) sobre uma PCH no Rio Sucuriú traz à tona um alerta importante: a necessidade de conciliar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental, especialmente em um bioma tão sensível como o que cerca a região norte do estado.
PCHs: Promessa de Energia e Desenvolvimento Regional
As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) são frequentemente apresentadas como uma alternativa mais sustentável às grandes usinas, por causarem impactos ambientais menores e poderem ser instaladas em rios que não suportariam grandes projetos. Para Mato Grosso do Sul, onde a demanda por energia cresce junto com o setor produtivo, as PCHs representam uma oportunidade para diversificar a matriz energética, fortalecer a segurança do abastecimento e, teoricamente, contribuir para o desenvolvimento regional.
A contratação de dezenas de novas PCHs no Leilão A-5/2025 demonstra que o setor enxerga um grande potencial nessa fonte. A ANEEL celebrou o resultado, que deve injetar bilhões em investimentos no setor. Para um estado como MS, com seus rios e riachos abundantes, essa notícia soa como uma promessa de progresso.
O Contraponto do Rio Sucuriú: A Necessidade de Cautela
A notícia de que o MP-MS investiga os impactos de uma PCH no Rio Sucuriú joga luz sobre o outro lado da moeda. Embora as PCHs tenham um impacto menor, elas não estão isentas de riscos. No caso do Sucuriú, a investigação se concentra em pontos críticos:
- Impacto na Ictiofauna: A preocupação central é o efeito da usina sobre a migração de peixes. Muitos peixes dependem de rios livres para realizar a piracema, processo essencial para a reprodução. Uma barreira, mesmo de uma PCH, pode interromper esse ciclo e afetar a fauna local de forma irreversível.
- Eficiência Energética vs. Dano Ambiental: O MP-MS questiona a viabilidade do projeto, sugerindo que sua eficiência energética pode ser baixa, o que levantaria dúvidas sobre a justificativa para os potenciais danos ambientais.
- Ação Preventiva: A atuação do MP-MS demonstra uma postura proativa, buscando esclarecimentos junto ao IMASUL e outros órgãos para garantir que o desenvolvimento não aconteça a qualquer custo.
O Equilíbrio Entre Economia e Sustentabilidade
A situação no Rio Sucuriú é um microcosmo de um desafio maior: como Mato Grosso do Sul pode continuar crescendo economicamente, impulsionado pelo agronegócio e pela indústria, sem comprometer seus recursos naturais? O estado lidera o crescimento agropecuário nacional, mas esse sucesso não pode vir às custas da saúde de seus rios e ecossistemas.
É preciso um equilíbrio. As PCHs podem ser parte da solução energética, mas devem ser avaliadas com o máximo rigor. Projetos como o do Sucuriú devem ser submetidos a estudos de impacto ambiental completos e transparentes, considerando não apenas a geração de energia, mas a proteção da biodiversidade e dos ecossistemas locais. O potencial hídrico do estado é um ativo valioso, e sua exploração deve ser feita de forma consciente, garantindo que as futuras gerações também possam usufruir da riqueza natural de Mato Grosso do Sul.
Conclusão:
A dualidade entre a promessa do Leilão A-5/2025 e a cautela da investigação do MP-MS no Rio Sucuriú resume o dilema de Mato Grosso do Sul. O estado tem tudo para continuar prosperando, com um agronegócio forte e uma demanda crescente por energia. No entanto, o caminho para o progresso deve ser pavimentado com sustentabilidade e responsabilidade ambiental. A sociedade e os órgãos de controle devem permanecer vigilantes, garantindo que o potencial energético do estado seja utilizado de forma inteligente, sem sacrificar a rica biodiversidade que torna Mato Grosso do Sul único.
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