O custo para se proteger de um calote da dívida soberana brasileira, medido pelo spread do Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, tem oscilado abaixo dos 145 pontos nos últimos meses, um patamar raro nos últimos cinco anos. Este indicador, que funciona como um seguro contra calote, sugere que investidores globais percebem o risco de crédito do Brasil como relativamente controlado, especialmente quando comparado à sua média histórica. As emissões recentes de títulos da dívida brasileira no exterior também têm demonstrado queda significativa nos prêmios de risco exigidos pelos investidores, com spreads mais baixos do que os observados entre 2021 e 2024.
Apesar desse alívio na percepção de risco de mercado, as grandes agências de classificação de risco — S&P, Moody’s e Fitch — mantêm o Brasil abaixo do grau de investimento, nível perdido em 2015. Analistas consultados pelo Estadão/Broadcast apontam que fatores estruturais, como a alta dívida pública e a rigidez orçamentária, continuam pesando na análise dessas agências. A diferença entre o comportamento do CDS e as avaliações das agências reside em suas metodologias: o CDS reflete condições de mercado mais imediatas, enquanto as agências consideram variáveis fiscais e de longo prazo.
A posição confortável do Brasil em moeda forte, com reservas robustas e sem risco de liquidez em dólares, é apontada pelo economista-sênior da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto, como principal razão para o CDS mais baixo. Ele afirma que o investidor internacional prioriza a capacidade de pagamento em moeda estrangeira, e o Brasil não apresenta preocupações relevantes nesse quesito. Adicionalmente, o ambiente global conturbado e a perda de confiança nos Estados Unidos podem estar distorcendo a métrica de risco relativo, fazendo com que o Brasil pareça mais atraente em comparação.
Apesar da melhora na percepção de risco de mercado, a retomada do grau de investimento enfrenta obstáculos fiscais significativos. Silvio Campos Neto destaca a dívida pública brasileira, que beira 90% do PIB, bem acima da média de emergentes (50%-60%) e de países com rating semelhante (40%-50%). A enorme rigidez orçamentária, com cerca de 95% das despesas sendo obrigatórias, também limita a margem de ajuste fiscal do país. André Perfeito concorda que a questão fiscal é o principal ponto de atenção para as agências de risco.
Economistas como Roberto Secemski, do Barclays, avaliam que pode haver um misto de otimismo e benevolência por parte dos investidores estrangeiros ao analisar o Brasil, comparando-o com países que apresentam deterioração fiscal mais acentuada, mesmo que o ponto de partida brasileiro seja pior. Ele reitera que a alta dívida pública e os juros reais elevados dificultam a sustentabilidade do quadro atual e a retomada do grau de investimento. Contudo, a perspectiva internacional, com déficits primários projetados mais altos em outras nações, pode fazer com que o Brasil pareça menos arriscado do ponto de vista de Nova York ou Frankfurt.


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