Bolsa brasileira encolhe: 36 empresas saem desde 2022 com juros altos.

O mercado de ações brasileiro está encolhendo devido a uma seca de Ofertas Públicas Iniciais (IPOs) e à saída de 36 empresas da Bolsa de Valores de São Paulo (B3) desde 2022. Este movimento ocorre apesar da valorização de 24% do Ibovespa neste ano e de ter atingido recordes diários de fechamento. A ausência de novas listagens por quatro anos indica uma retração significativa, com nove companhias já tendo decidido fechar o capital em 2025.

O fechamento de capital, realizado por meio de Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) onde o acionista controlador compra ações de minoritários, drenou mais de R$ 40 bilhões em valor de mercado da Bolsa nos últimos cinco anos. Adicionalmente, R$ 75 bilhões em papéis foram retirados de circulação desde o início de 2023, em parte por recompras de ações pelas próprias companhias. Empresas como Carrefour Brasil, Gol, Zamp e o banco Pan estão entre as que anunciaram ou concluíram o fechamento de capital.

Analistas apontam a alta taxa básica de juros (Selic a 15% ao ano) como o principal fator, tornando a renda fixa mais atraente que a renda variável. O valor das ações estaria abaixo do seu potencial, incentivando recompras ou aquisições para fechamento de capital. Raphael Figueredo, estrategista da XP, descreve o mercado como tendo ‘perdido gordura e chegado no osso’, com pouco interesse do investidor em se financiar via mercado de ações em um ambiente de juros reais elevados. A B3 reconhece a dificuldade em encontrar investidores dispostos a aplicar em ações neste cenário.

A atratividade de títulos de renda fixa isentos de Imposto de Renda, como LCI e LCA, também desvia a demanda de outros portfólios. Atualmente, a relação preço/lucro na B3 está em 8,4 vezes, abaixo da média histórica de 10 anos (11 vezes) e significativamente menor que a média americana (22 vezes), indicando ações descontadas. São investidores estrangeiros, que se alavancam com custos de financiamento mais baixos no exterior, que estão comprando esses ativos brasileiros, impulsionando o Ibovespa enquanto investidores domésticos se afastam.

Além do fechamento de capital, a recompra de ações pelas próprias tesourarias das companhias representa uma escolha mais segura para os controladores, com R$ 16,6 bilhões recomprados este ano e potencial de R$ 82,5 bilhões adicionais. A B3 busca reverter o cenário com iniciativas como o ‘Regime Fácil’, voltado para empresas com faturamento anual de até R$ 500 milhões, mas a possibilidade de ‘exportação’ do mercado para bolsas americanas, onde empresas como Nubank e Stone já negociam, é uma preocupação. Novas regras da CVM simplificam o processo de OPA, mas as condições de mercado continuam sendo o fator decisivo para as empresas.

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