Os produtos fabricados na China ganharam um espaço cada vez mais expressivo no mercado brasileiro — não só de importações diretas, mas também pela penetração em segmentos industriais antes dominados pela produção nacional. Relatórios recentes mostram que os chineses avançaram fortemente nas importações de bens da indústria de transformação no Brasil, especialmente em setores de baixa e média-baixa tecnologia, mas com presença crescente também em bens de maior valor agregado.
Entre 2010 e 2023, a participação dos produtos chineses na indústria de transformação brasileira saltou consideravelmente. O aumento foi expressivo em ramos como têxteis, vestuário, eletrônicos e maquinaria, mas mesmo em segmentos de média e alta tecnologia, foi registrado avanço, embora mais modesto. Esse crescimento das importações coincide com uma perda de competitividade da manufatura nacional, que enfrenta custos elevados, câmbio desfavorável, cobrança tributária pesada e dificuldades de inovação.
Além disso, a pauta exportadora brasileira para a China tem se concentrado fortemente em commodities e produtos básicos com pouco processamento industrial. A demanda chinesa por soja, carne, celulose e minério, por exemplo, manteve sua força, gerando ganhos de curto prazo para exportação, mas pouco estímulo para o desenvolvimento tecnológico ou para a agregação de valor desses bens no Brasil.
Os efeitos dessa dinâmica são mistos. Por um lado, o consumidor brasileiro costuma se beneficiar de preços menores e maior variedade de produtos importados. Por outro, há impactos reais para a indústria nacional — desindustrialização parcial, fechamento gradual de fábricas menos eficientes, perda de empregos qualificados e dependência crescente de fornecedores externos para componentes críticos.
O que deve preocupar — e o que pode ser feito
É urgente reconhecer que essa tendência pode se tornar estrutural se não houver contramedidas. Políticas públicas voltadas à inovação, incentivos à produção local, redução da burocracia e dos custos de produção são essenciais. Também é importante ressaltar que depender demais das exportações de matérias-primas torna o país vulnerável a choques externos.
Se o Brasil quiser manter alguma soberania econômica e tecnológica, precisa fortalecer educação, pesquisa aplicada, infraestrutura e parcerias industriais. Caso contrário, o risco é ficar preso no ciclo de exportador de commodities e importador de manufaturados, enquanto outras nações mais agressivas industrialmente avançam.
Referências
- IEDI – estudos sobre participação chinesa nas importações da indústria de transformação do Brasil entre 2010 e 2023


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